segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Chance de uma Vida (5)

Ao contrário do que se pode imaginar, Saulo não estava tenso. Ansioso, sim; agitado, talvez. Ele não apertava o volante do carro, mas o conduzia quase com delicadeza. Podia sentir a resposta da suspensão dianteira. Estava fazendo tudo com precisão, cuidado e esmero.
Contornou a curva 1 como se ela não existisse. Todos os pilotos faziam isso nas corridas, por que ele não deveria fazer o mesmo ? Na aproximação da curva 2, Gary seguiu o protocolo falando e indicando redução de velocidade. Aquilo surpreendeu Saulo, que esperava comunicação apenas depois da curva 2 e não antes. De todo modo, ele tinha um plano e o estava seguindo.
Entrou na curva ainda acelerando para tirar o pé do acelerador apenas 10m depois da marca de redução. O carro aceitou bem o comando e contornou a curva com suavidade apesar da velocidade. E para manter uma simetria, 10m antes do ponto de aceleração, Saulo retomou a velocidade, mas novamente sem ser ríspido com o equipamento. Acelerou gradativamente, mas já estava com o acelerador no fundo antes da tangência externa da curva. Pilotava como um profissional, em suma.
Esses detalhes todos não passaram despercebidos a Gary, que optou por não comentar nada na hora. O rádio era monitorado e gravado, e sua função era mandar o novato desacelerar se quisesse manter seu emprego. Seguiu indicando para ele manter a velocidade no meio da reta, ordem que foi ignorada, e reduzir na aproximação da curva 3, o que só foi feito tardiamente para seu gosto. Nada disso surpreendia Gary mais.
O contorno da curva 3 foi simplesmente perfeito. Como na curva 2, Saulo sabia que as marcas de frenagem e aceleração eram para pessoas comuns, e optou por usar os mesmo 10m, aproximadamente, como atraso da primeira e adiantamento da segunda. Funcionou bem, o carro novamente aceitou seus comandos, como uma moça apaixonada dançando uma valsa com recém-marido. A curva 4 ficou para trás sem incidentes e Saulo ficou satisfeito com o que fizera. Seguiu então para a última volta da bateria.
A curva 1 não merecia mais comentários. Era ora de arriscar mais e deixou para frear um pouco mais dentro da curva. Desta vez, ficou mais próximo do limite e pode sentir o carro escorregando para fora da curva. Virando um pouco mais o volante, pode manter o carro na linha correta, mas percebeu que não poderia fazer muito mais do que aquilo. Acelerou ainda mais cedo para uma ótima saída de curva e com isso seguiu pela reta. 
Na reta, era ora de pensar sobre a curva 3. Deveria manter a estratégia da volta anterior ou arriscar, assim como fizera com sucesso na curva 2 ? Se arriscasse e desse certo, pensou, talvez tivesse o tempo bom que Gary o incentiva a fazer. Se errasse, perderia o efeito da curva 2. 
Optou pelo conservadorismo. Fez a curva 3 nos mesmos moldes da volta anterior e também isso foi percebido por Gary. Com isso contornou a curva 4 e fechou sua última volta lançada. 
Gary estava atento. Se o rapaz fosse fazer alguma gracinha como tentar continuar a bateria seria agora. Mas não foi o que ocorreu. Tão logo passou a bandeira quadriculada, Saulo tirou o pé. 
- Bem, pensou Gary, temos o cartão de crédito dele, afinal de contas. Pelo menos nisso ele deve pensar.
Saulo fez a curva 2 deixando o carro deslizar. Até balançou um pouco, pois nunca fizera essa curva tão lento. Seguiu pela reta mantendo a velocidade de passeio e reduziu mais no final, já pensando na entrada dos pits. Gary apontou para a esquerda e disse "parar", palavra que Saulo entendeu e obedeceu. 
O carro entrou nos boxes até lento demais e Gary teve que pedir para ele acelerar um pouco. Ao final do pitlane, a equipe o aguarda para retirá-lo do carro. Pode reconhecer Brad na pista, mas não percebeu, ainda, a expressão furiosa que ele tinha no olhar.

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