terça-feira, 26 de novembro de 2013

A Chance de uma Vida (6)

Quando Saulo parou o carro, Brad dirigiu-se para o lado direito, para falar com Gary. Saulo ficou mais tranquilo. Vira a expressão de irritação no olhar do coordenador, mas concluiu erroneamente que ele não tinha nada a ver com a causa. 
Mais experiente, Gary saiu sozinho e com facilidade do carro. Saulo contou com a ajuda de dois assistentes. Tão logo Gary tirou o capacete, Brad começou a falar. 
- Sr. Kaszcinky, o senhor pode me explicar o que aconteceu dentro desse carro ?
O tratamento pelo sobrenome indicava que a situação era séria como Gary previra. Tinha uma frase para se explicar, ou ao menos manter a atenção de Brad nele. Escolheu as palavras e respondeu, tentando demonstrar calma e firmeza nas informações.
- Brad (optou pelo tratamento informal corriqueiro), acho que o rapaz não entende uma palavra em inglês, pois simplesmente não estava seguindo as instruções que eu passava. E redutor de potência não funcionou.
A beira de gritar, Brad respondeu:
- É sr. Hayworth. E você quer que eu acredite nisso, sr. Kascinky ?
- Olhe o botão aqui ! - disse Brad apontando para dentro do carro. Brad olhou e, de fato, o botão estava completamente solto. Não havia como reduzir a velocidade. 
-...
- E olha a cara de bobo dele, Brad - arriscou-se - Ele não está entendendo nada do que estamos falando.
De fato, Saulo estava com aquele olhar estasiado comum a todos os participantes desse tipo de passeio. E eles conversavam a 3 metros dele, não tinha como não ouvir, apenas não entender.
- Ok, ok. Mas vocês me deram um susto danado, Gary. Não sabia se ele ia arrebentar o carro ou bater o recorde da pista andando rápido daquele jeito. Isso não pode acontecer...
- E o recorde ?
- Hein ?
- O recorde. Ele bateu ?
Brad olhou para Saulo, que se atrapalhava tentando tirar o macacão. Sorria como uma criança. Era a benção da ignorância.
- Quase 4 décimos abaixo.
- Brad, eu estava lá dentro. O rapaz é bom. A telemetria estava ligada ?
- Não, claro que não. Como iríamos imaginar ?
Brad estava mais calmo. Foi tudo uma grande equívoco e ninguém saiu machucado.
- Brad, esse tipo de talento não aparece todo dia.
- Eu sei muito bem o que você está tentando dizer.
- Você sabe o que está em jogo aqui. Richard está procurando novatos pelo país inteiro. Vamos indicar esse, oras. Afinal de contas, só veio retardado pilotar aqui o mês todo.
Brad aliviou a tensão e sorriu pela primeira vez. 
- Lembra daquele árabe querendo trocar as marchas ?
- E os irmãos japoneses, que queriam andar no outro sentido ?
Ambos riram juntos.
- Ok, mas e se ele não for isso tudo, Gary ? Se ele não tinha a menor noção do que estava acontecendo, pode ser daqueles talentos natos que quebram sob pressão. Não quero indicar um babaca para o Richard.
- Bota ele na pista de novo. Vamos colocar pressão aqui mesmo, oras. E não venha me falar em custos: os carros estão aí, é só colocar gasolina para outro turno e vamos ver o que acontece. 
- E qual a sua ideia ? Esquema caçador ?
- Pensei a mesma coisa. 
Sorriram um para o outro.
- E o que eu vou dizer para ele ?
- Diga o que você quiser, Brad. Ele não vai entender mesmo.
Brad andou na direção de Saulo, que aguardava do lado de dentro do pitwall. O rapaz não era indisciplinado, no fim das contas. Era uma questão de não ter entendi patavinas do que estava acontecendo. Precisava falar de modo simples para ele entender. E precisava de uma boa história de cobertura para fazer o tal teste do caçador.
Passou a falar mais lentamente, e com o linguajar mais simples possível.
- Sr. Saulo ?
- Sim.
- O sr. entende inglês ?
- Muito pouco.
- Ok. Sr. Saulo, houve um problema no seu passeio.
- Problema ?
- Perdemos os dados. Perdemos a filmagem. Entende ?
- Oh. Que pena - disse Saulo, achando que seria reembolsado por uma parte das despesas. 
- Para compensar, oferecemos que o senhor faça outro passeio no mesmo carro. 
- Outro ?
- Sim, e um pacote diferente. Melhor.
- Não entendi, Brad.
- Andar de novo, pacote melhor, sem custo.
- Sem custo ?
- Sem custo algum para o senhor.
- Legal !
- O senhor aceita, então ?
- Claro. Quando vai ser ?
- Vamos terminar os outros da sua bateria antes, se o senhor não se importar.
- Como ?
- Mais tarde. Meia hora.
- Ah, sim. Tudo bem.
- E vai ter uma diferença.
- Diferença ? De valores ?
- Não sr. Saulo. Sem custos adicionais.
- Não entendi.
- Vamos colocar outro carro na pista logo a sua frente. O senhor terá seis voltas completas para passar ele.
- Passar o outro. Entendi. Seis voltas ?
- Seis voltas. É nosso modo de pedir desculpas pelo problema com os dados. E vamos cuidar e gravar tudo desta vez. 
- Legal. Outro passeio. Gostei daqui. Gary vai comigo de novo ?
Brad e Gary se entreolharam. 
- Vai sim. 
Saulo sentou-se e voltou a se pensar na pista. Bacana: ganhar um passeio grátis porque um pen drive não funcionou. 
Gary perdeu 5 minutos explicando que apontar para a esquerda significa ir mais para dentro da pista, e direita era para fora. Desta vez, Saulo pareceu entender.
Brad fez uma ligação para o tal Richard, que demonstrou interesse polido pela história. Pediu apenas os dados gravados e uma maneira de entrar em contato com o rapaz. 

Nesse meio tempo, uma moça loira muito bonita chama Jennifer, que por pouco escapara da vida na prostituição dois anos antes, sorteava 6 bolinhas numeradas em uma sequência bastante particular para esta história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário